Desde o início da minha carreira científica, me deparei com um grupo de doenças chamadas “Doenças Negligenciadas” que, já de forma léxica, entendemos que são aquelas doenças que não são dadas a devida importância. Doenças negligenciadas são, em sua maioria, aquelas causadas por parasitas, como a Leishmaniose, Esquistossomose, Doença de Chagas, Malária, entre outras, que apresentam elevada taxa de mortalidade e levam ao fim centenas de vidas todos os anos.
Por sete anos, trabalhei com pesquisa básica e aplicada na criação de testes rápidos de diagnóstico e desenvolvimento de novos alvos terapêuticos para Leishmaniose. A Leishmaniose é endêmica em 76
países no mundo, a maioria deles países em desenvolvimento, sendo que na América Latina 90% dos casos estão concentrados no Brasil. A doença pode se manifestar de duas formas: a cutânea, que pode ser concentrada ou difusa, levando desde uma ferida tópica local até mesmo a perda de tecido cartilaginoso e deformações, e a visceral, forma mais grave da doença que atinge os órgãos internos e pode levar a morte.
Dados da OMS e Ministério da Saúde do Brasil relatam que, em média, cerca de 3500 novos casos de Leishmaniose visceral são registrados no Brasil anualmente, com uma taxa de letalidade que vem aumentando nos últimos anos e já ultrapassa 7,1%. Fazendo um comparativo com o novo Corona vírus, dados amplamente divulgados pela OMS mostram uma letalidade do COVID-19 de 2,7% nos EUA, 12,3% na Itália e 4,2% no Brasil, até abril de 2020. Isso nos mostra que doenças como a Leishmaniose visceral estão entre as que mais causam mortes no Brasil.
É importante salientar que a Leishmaniose, tanto cutânea quanto visceral, tem tratamento. Talvez por isso não tenha tanta evidência no cenário epidemiológico nacional. Entretanto, este tratamento é obsoleto e data da década de 80, utilizando drogas antimoniais, em primeira escolha, que são altamente cardio e hepatotóxicas, ou em outros casos com Anfotericina B, que também não exclui sua toxicidade hepática
e renal, apesar do esforço da farmácia de manipulação na elaboração da “segunda arte”, para melhorar e personalizar alguns desses tratamentos.
É importante salientar que a Leishmaniose, tanto cutânea quanto visceral, tem tratamento. Talvez por isso não tenha tanta evidência no cenário epidemiológico nacional. Entretanto, este tratamento é obsoleto e data da década de 80, utilizando drogas antimoniais, em primeira escolha, que são altamente cardio e hepatotóxicas, ou em outros casos com Anfotericina B, que também não exclui sua toxicidade hepática
e renal, apesar do esforço da farmácia de manipulação na elaboração da “segunda arte”, para melhorar e personalizar alguns desses tratamentos Leishmaniose, em instituições de prestígio como a UFV e a FIOCRUZ, os grupos de pesquisa em que trabalhei eram batalhadores em fazer ciência com pouquíssimo dinheiro e obter resultados de ponta, que muito me orgulho.
Por se tratar de doenças que não afetam os grandes centros econômicos, que não estão constantemente na mídia ou que fazem parte de um universo social determinado, nossas pesquisas sofrem cortes consecutivos de investimentos e, a cada dia, se tornam mais esquecidas pelos detentores do poder econômico.
É chegada a hora de tornar a ciência o novo parâmetro de evolução nacional. É necessário que, não somente em tempos de pandemia, a ciência receba a atenção e o investimento necessário, não só para as doenças negligenciadas, mas para todas aquelas descobertas que salvam vidas, que melhoram a qualidade de vida e elevam a soberania socioeconômica de um país que produz ciência e tecnologia e não fica refém do novo tipo de dominação estrangeira através da tecnologia.
Por Antonio Zóboli
Disponível em: https://www.jmariano.com.br/_files/ugd/7c55a3_0a2e7f7c174e45a89dea78a3a8ab0a06.pdf